Nesta última semana publiquei um áudio
em grupos de WhatsApp onde eu fazia uma análise da campanha de Olívia Caldas à
Prefeitura de Brejo. Por pouco mais de dez minutos me dediquei a analisar a
representação de sua campanha e da sua figura dentro do atual cenário político
brejense. No começo da análise eu fiz uma analogia entre o período eleitoral e
o carnaval, pois ambos têm em comum a capacidade de arrancar as pessoas de suas
faculdades mentais sadias. Eu disse que essa cegueira durante uma campanha
política impede de que as pessoas enxerguem com clareza algumas coisas que
estejam bem evidentes. E agora, o que dizer depois dessa derrota? Os seus
eleitores eu não sei o que dirão, mas eu digo apenas uma coisa: eu avisei!
A gravação foi lançada na noite
do dia 26 de Setembro e teve uma repercussão que me assustou. Na manhã do dia
27, quando abri o Facebook e o WhatsApp, para minha surpresa haviam inúmeros
pedidos de pessoas querendo ouvir o tal áudio. Ao todo foram 34 pedidos, além
de outras mensagens de pessoas que já haviam escutado e me parabenizavam pela
análise, assim como também uma quantidade expressiva de pessoas me criticando
duramente pelo feito. Até mesmo um internauta fez o que chamamos de “textão”
para rebater os argumentos de minha análise, mas eram poucas consistentes e na
verdade só revelava a ausência de senso crítico e a presença de um fanatismo
político típico da politização exagerada de nossa cidade.
O grupo de Olívia não conduziu
uma má campanha, pelo contrário, foi uma campanha bem estruturada. Eles possuíam,
além de bons artifícios, um conjunto de argumentos e retórica sedutoras, mas
ignoraram outros fatores importantes que fizeram a campanha definhar. Houve uma
supervalorização da imagem de Olívia, de sua juventude até sua formação como
assistente social, mas o erro de fixarem o olhar e concentrarem a campanha somente
na figura dela foi que esqueceram o contexto no qual ela estava inserida.
Usaram e abusaram de sua figura e não olharam ao redor. Foi igual alguém que
vai andando na rua de cara na tela do celular e de repente esbarra em um poste
de iluminação. O poste de iluminação que a campanha de Olívia esbarrou foi a
realidade, muito diferente daquela expressa pelo otimismo de curtidas e
compartilhamentos nas redes sociais. Eles construíram uma ilusão e acreditaram
nela.
O insucesso dessa campanha era
uma tragédia anunciada desde o anúncio de Olívia Caldas como a candidata do
grupo Caldas Furtado. Não pela candidata, mas a conjectura. Durante a pré-campanha,
Olívia Caldas chegou a me visitar para conversarmos sobre o projeto dela. A
minha visão sobre o que seria a campanha dela já estava toda estruturada. Eu
previa que não eles não teriam fôlego para uma vitória. Exatamente por isso,
nesta ocasião, eu sugeri que ela preservasse a imagem dela, se resguardasse e
entrasse em outra ocasião onde a conjectura fosse mais favorável, de tal
maneira que eu não pensaria duas vezes em apoia-la. Recordo que a resposta da
candidata foi essas, nestes mesmos termos: “Mas
se não for eu, quem será Wanderson?” Mais duas pessoas estavam de
testemunha na ocasião. Mas quem seria eu para convencê-la disso? Ninguém, um
peixe pequeno do qual os textos não surtem efeito nenhum, como a própria me
disse.
Olívia vinha de um mandato como
vereadora sem grande notoriedade, parece que se serviu de sua cadeira na câmara
apenas para representar os interesses do grupo a que pertence. Prova disso foi sua
ausência na votação sobre a CPI para investigar os desvios dos recursos do
FUNDEB. Isso mostrou o quanto ela ainda vivia a sombra dos pais. Argumentar que
ela ajudou a aprovar alguns projetos importantes para provar que foi uma grande
vereadora não é um argumento nada válido. Afinal de contas ela não aprova nada
sozinha, não era a única vereadora, existiam mais doze além dela. Se Olívia tivesse
usado os quatros anos para mostrar autonomia, procurando se desligar da imagem
de seus pais, o resultado seria bem diferente. Mas mesmo assim quatro anos era
um tempo pouco hábil para isso. Por isso a minha sugestão para que ela
preservasse a imagem e aguardasse mais um pouco para se lançar, sobretudo,
porque havia um agravante. Um dos seus principais apoiadores é Omar Furtado que
não teve uma boa gestão, a imagem estava desgastada e a popularidade muito
baixa. Era inevitável que todos esses fatores atingissem diretamente a imagem
de Olívia, como agora está mais provado que atingiu. Muito da rejeição a ela se
deu por conta da crença que sua gestão seria continuidade da atual, uma vez que
a mesma equipe de governo, em sua grande maioria, continuaria a mesma, havendo
talvez apenas uma “dança das cadeiras”. Agora avalie você, que chance teria uma
candidata com a imagem pouco projetada e ainda com o agravo da pouca autonomia
além de ser aliada a ex-gestores que tiveram gestões criticadas? Por falta de
projeção da imagem dela a única saída foi investir em uma campanha de exaltação
da figura de mulher, mãe, jovem e assistente social aliada a propostas
totalmente absurdas como colocar Brejo no circuito nacional de teatro, sendo
que nem a capital está dentro desse roll nacional. E olha que produção lá é
grande e de boa qualidade! Restaurante popular em uma cidade do nosso porte que
ainda não perdeu o costume de comer em casa e pouco se arrisca comer em
restaurante, soou como onírico* demais.
Iniciada a campanha, o grupo de
Olívia fez uma boa representação virtual. Seus eleitores/internautas se
dedicaram religiosamente a compartilhar, curtir e espalhar hastags pelas redes
sociais. Foi um movimento bonito de vê, havia grande dedicação. Mas em dado
momento, talvez preocupados com a ascensão de Zé Farias, a linda dedicação de
seus internautas transformou-se drasticamente em um espetáculo de ofensas, baixarias,
acusações e distribuição de ódio gratuito. Foi difícil conviver nas redes
sociais com alguns dos seus correligionários mais inflamados, graças ao bom
Deus não eram todos. Mas uma minoria protagonizaram situações desconfortáveis.
Parecia que eles estavam sempre on-line e quando alguém fazia alguma crítica ao
grupo, eles surgiam com paus e pedras, nas mãos e nos dentes. Isso desgastou
muito a campanha. O comportamento de alguns foi totalmente prejudicial à imagem
do grupo. Nesses quarenta e cinco dias, muitas pessoas me confidenciaram que
não votariam mais em Olívia devido o comportamento de alguns de seus aliados na
internet. Principalmente quando um blog publicou a notícia que Zé Farias era
acusado de um estupro. Hoje, tenho consciência que o grupo Caldas Furtado não
tenha participação na publicação dessa notícia no blog de Luís Pablo, mas não
há sombra alguma de dúvidas que isso foi utilizado amplamente por seus
eleitores para atingir Zé Farias, assim como utilizado pelos lideres do grupo. No
último comício de Olívia, quando se deveria falar de propostas e esperanças,
algumas das pessoas que discursaram dedicaram alguns momentos para chamar o
candidato opositor de estuprador. Isso soou muito feio. Mais desgaste!
O que faltou para a campanha de
Olívia foi tempo. Quatro anos não foram suficientes para ela mostrar maturidade
e autonomia. E os 45 dias de campanha não foram suficientes para desligar sua
imagem do peso de 16 anos de administrações somadas dos seus principais
apoiadores. Não foram suficientes para mostrar que teria as rédeas de uma
eventual gestão. O tempo que ela não teve atrás, ela precisa agora acumular
para o futuro. Precisa descansar a imagem, se projetar um pouco mais além da
sombra de seus pais. Ela já conquistou pessoas e o que precisa agora é
mantê-las do seu lado. Entendo que ela é forte, corajosa e tem a capacidade de
compreender o que descrevi nesse texto. Ela não teve uma vitória na política,
mas tem muitas vitórias na sua vida. Paz e bem Olívia Caldas, que Deus continue
te abençoando!
*Onírico: Do universo dos sonhos.