EDITORIAL
É possível afirmar que vivemos a
era em que a comunicação exerce um protagonismo indispensável na sociedade
moderna. Em linhas gerais é impossível viver sem ser alvo direto ou indireto de
dispositivos tecnológicos de comunicação e difusão de informação. Em nossos
dias, a comunicação galgou degraus e atingiu outros patamares fundindo na mesma
pessoa o produtor e receptor de informações. A dicotomia se desfez, os papéis
se mesclaram e uma é a pessoa quem produz e recebe a informação. O blog é o
resultado direto desse fenômeno, transformando o cidadão comum, antes agente
passivo, em um mobilizador, ativo formador de opinião.
A palavra “blog” causou estranhamento
à principio, mas logo se encorpou bem no vocabulário das pessoas da região do
baixo Parnaíba, atingida até de maneira tardia pelo frenesi dessa novidade
virtual. Foram nesses últimos cinco anos que cresceu o número de blogs dedicado
em sua maioria para produção de conteúdo jornalístico. Geralmente essas páginas
trazem como cartão de visitas o nome do editor/criador da página e apelam
majoritariamente para o uso de notícias policiais, tragédias e política, aos
moldes do jornalismo popular, com pouca variação de conteúdo. Uma penny
press virtual.
Originalmente o blog vem da
expressão inglesa web log, que significa “diário de rede”. Seu uso era
exatamente o que propõe a expressão: usar da página como um diário para
registro e divulgação de conteúdo pessoal. Com o tempo os blogs foram mudando e
cada blogueiro foi usando dessa plataforma para uma categoria específica ao seu
bel prazer, em seu bel direito. A produção de material jornalístico foi uma
delas. Talvez pela gratuidade, facilidade e simplicidade de manuseio dessas
páginas, os potenciais jornalistas escondidos foram aparecendo e usando deste
meio para produzir informação. Mas como explicado, o blog em si não é
jornalismo, nem em formato, nem em gênero. Um jornalista pode ser blogueiro,
mas nem todo blogueiro é essencialmente um jornalista.
No Baixo Parnaíba há uma
variedade dessas páginas que se propõem a fazer jornalismo, mas neste período
eleitoral muito deles vem tomando o tônus original de diário onde de maneira
explícita, sem sutileza, servem seu blog de palanque para grupos, partidos políticos,
revelando suas tendências e preferencias a ponto de causar constrangimentos. Há
casos em que o texto serve-se de um retrocesso de séculos, beirando o
jornalismo literário e propagandista do século XIX. Entretanto, para fazer
uma crítica justa esbarramos em uma questão longa e conflituosa: por ser
originalmente um diário virtual, o blogueiro poderia servir de sua página para
fazer apologia a um político de seu agrado ou deveria suprimir essa
tendenciosidade já que se propõe a fazer jornalismo que, portanto, deve buscar
a objetividade?
A resposta é imprecisa. Há muitos
fatores que deveriam ser investigados. Mas não obstante isso, devemos busca-la
a fim de que o bom serviço de prestar informação aos internautas seja feita de
maneira no mínimo digna. Favorecer a competição nesse período delicado que é o
eleitoral é fazer um desserviço. Se for puramente um blog, tem o total direito
de exercer sua liberdade de opinião favorecendo a quem quiser. Mas se usa da
alcunha de jornalismo deve seguir pelo caminho contrário, procurar a
objetividade, seriedade, responsabilidade.
Não se faz aqui aquele discurso
clichê sobre imparcialidade. A verdade é que esse conceito é uma lenda. Todos
ouvem falar, mas ninguém nunca viu. Em maior ou menor grau, todo veículo é
parcial. No caso dos blogs, pelo que tenho observado, a parcialidade é mais
explícita. A explicação é simples. Todo blog é mantido por uma pessoa e toda
pessoa é também um ser subjetivo. Como ser subjetivo implica dizer que este
possui uma visão de mundo próprio como resultado de sua experiência particular,
criando assim tendências e inclinações próprias fazendo com que tudo que se
produza, faça ou fale passa por esse crivo subjetivo. Por esse motivo somos
naturalmente tendenciosos. É impossível se desassociar da sua subjetividade. O
conceito que o jornalismo que se aproxima da “imparcialidade” é a objetividade.
Objetividade é a busca incessante por narrar os fatos puros, sem o peso da
subjetividade, transmitir tal como a realidade dos acontecimentos. Mas não se
pode alcançar isso na sua integridade, não obstante a isso se deve desistir de
procurar uma aproximação da narração objetiva dos fatos.
O que reforça ainda mais esse
comportamento explícito de tendenciosidade dos blogs é o fato que hoje a
imprensa está inserida em um contexto capitalista, mercadológico. Isso trás
benefícios, mas como tudo, trás malefícios. A informação, nessa lógica, é um
produto. Precisa ser vendida. Assim como também pode ser comprada. Isso é um
tiro no próprio pé. Oferecer tais serviços em troca de algum benefício cessa a
liberdade, limita, prende aquele que pretende ser um comunicador.
Quando o BREJO MAIS nasceu, em
2012, era um blog factual, dedicado à notícia, a informação. Quatro anos depois,
porém, vem se consolidando como blog de variedade que mescla cultura, utilidade
pública, notícia, críticas e crônicas de maneira despretensiosa. Abrindo mão da
formalidade jornalística, buscamos se tornar um espelho que reflete nossa
região em todas as suas faces. E nossa participação nesse período eleitoral
será de transmitir os fatos, buscando a objetividade, mostrando os dois lados
de uma mesma questão, assumindo o papel real de jornalismo dentro de uma
democracia. Para o Brejo Mais a propaganda política ficará reservada aos meios
competentes a isso.
Wanderson Mota
Graduando em Jornalismo pela
Universidade Federal do Maranhão