Brejo deveria ser o recôndito da cultura no Baixo Parnaíba,
mas infelizmente não é. Não porque nos falte expressões culturais, mas sim
porque deixamos, a muito tempo, de ser uma cidade cultural para ser uma cidade
de cultura política. As divisões políticas abafam qualquer outra coisa em
Brejo. Não interpretem isso como um exagero meu. Não estou tentando culpar a
política como principal responsável pela quase extinção da diversidade de
expressões culturais genuínas em nossa cidade. No entanto, não nego que ela tem
sua parte para chegarmos a esta situação. Da mesma forma o povo tem uma “culpa”
por se acomodar e não tentar reverter esse quadro enquanto há tempo. Um povo
que se entrega como súditos cegos de fulano e beltrano e esquece que políticos
e pleitos passam, mas Brejo não. Gostaria de ver algo sendo feito e mudado
antes da minha geração passar!
Muitas são as vezes que desabafo no facebook a respeito da
falta de apoio e investimento na cultura brejense sem que uma representação
política leia e opine sobre o assunto. Mas sem dificuldades encontro muitos
desses representantes políticos travando batalhas baixas, acusadoras e
desmoralizantes em outras atualizações por aí... Isso é lamentável. Alguns
vereadores praticamente moravam na frente do computador ou no celular acessando
o facebook antes das campanhas e depois que se elegeram simplesmente tomaram um
eficiente chá de sumiço. E não me convence dizer que sumiram do facebook porque
estão ocupados trabalhando. Caso tivessem realmente ocupados e trabalhando, no
sentido mais concreto da palavra, nossa cultura não estaria assim às traças,
como que abandonadas em um baú de quinquilharia! Antes de me aprofundar no real
assunto desse texto quero deixar claro que não sou de partido A e partido B,
meu partido eu já tomei. Sou do lado de Brejo e o que for melhor para ele. Quem
oferecer o melhor para ele, esse está do MEU lado, porque eu mesmo não estou do
lado de ninguém. Pois aqui falo como alguém apartidário, falo como um brejense
e tão somente como isso. Está claro? Enfim.
Perdemos muita coisa ao longo da história e hoje estamos
quase descaracterizados culturalmente. Salvo apenas pelos festejos que
resistem, mas que também alguns pontos perderam a essência. Fora a isso, não há
muita coisa atrativa em Brejo. Os “turistas” que recebemos, não são exatamente
turistas, são filhos desta terra que voltaram para visitar parentes. Se der
para chama-los de turistas, amém. Eu, no entanto, não fico satisfeito.
Para mudar a situação a primeira coisa que deve ser feita é
acabar com a maldição dos quatro anos. É conscientizar as pessoas que a cultura
é mais que uma secretaria e vale mais que um emprego de quatro anos. É preciso
esclarecer que a cultura deve estar acima do bem e do mal da política. Muito
acima do vereador, do prefeito, do secretário e tarará... Digo isso, porque a
parcela de culpabilidade da política é exatamente essa. Se você não é do lado
do governo que está no poder você não é nada e nada do que você queira fazer
vai para frente. Isso é uma triste realidade e covardia imensa! Do ano dois mil
para cá nos aparecem duas brincadeiras de bumba-boi. Quem não se lembra do
Brilho dos Muypurás e o Sotaque Brejeiro? Mas hoje são meras sombras de
governos passados fomentando assim o apelido de “cidade do já teve” que Brejo
tem. Mesmo gostando deles e da iniciativa, o caráter político dos dois bois me
fazem declarar que nada tinham de tão cultural. Tão tal é que hoje já não
existem. Não eram de Brejo, eram da prefeitura entendem o que eu quero falar?
Por isso deixaram de existir. Basta o prefeito sair e o boi morre. Vem outro
prefeito, outro boi, o prefeito vai embora e o boi também. Essas brincadeiras
de bumba boi deveriam ser do povo, de gente desligada de compromissos com
político A e B. E mesmo que fosse ligado politicamente a alguém o próximo
prefeito deveria dar total apoio. Pelo menos para dar continuidade a
brincadeira e transformar isso em tradição. Se existe uma secretaria chamada de
Secretaria de Cultura, implica que o gestor deve cobrar e incentivar que ela
trabalhe tão intensamente quanto à secretaria de Educação, Saúde e todas as
outras. Se há uma Secretaria de Cultura, mas não há trabalho visível realizado,
então a prefeitura (não gostaria de usar essa expressão) tem culpa. Uma
secretaria de cultura deve trabalhar para o bem de Brejo, não de cicrano ou
fulano, ou de partido A e partido B.
Quando falo da parcela de culpa do povo, do qual até eu
estou incluso, me refiro ao comodismo, o abandono de brincadeiras, a falta de
iniciativa de criar e dar continuidade a manifestações culturais sejam elas
quais forem. Muitos se acovardam simplesmente porque muda o seu prefeito.
Desistem, se escondem, fogem por medo de represália. Eu até entendo, pois sei o
quanto é difícil receber apoio de alguém do qual você não acompanhou nas campanhas
eleitorais. Ainda mais em uma cidade pequena como a nossa que tudo gira ao
redor da “galinha dos ovos de ouro” também conhecida como Prefeitura. Mas minha
gente, a cultura vale mais que qualquer cargo! Há mais fontes de financiamento
que político A e B. Encontra-se aí a boa vontade em carência!
O estado da cultura brejense pode ser bem representado se
olharmos o estado da Casa da Cultura. Ou seja, abandonada e caindo aos pedaços.
Em outras épocas, a tal Casa da Cultura, um protótipo de museu, conseguia
atrair muita gente de fora. No entanto, depois que o governo idealizador da
ideia saiu de cena, a Casa foi sendo esquecida até que fechou as portas de vez.
A situação que falo é tão crítica que sequer temos danças
que nos representem nos festejos juninos. Eu em São Luís amarguei indignação ao
receber notícia que o arraial o corredor da folia teve quase que inteiramente
apresentações de fora. Uma vergonha. Antigamente,
havia quadrilhas de renome em Brejo. Lembro-me de uma tradicional do morro do
Cemitério do qual esqueci o nome. E outra também das Areias. Mas hoje nem uma e
nem outra é montada. Nesse sentido culpo o desleixo do povo. Até a
contemporânea Explosão de Ritmos parece ter sido abandonada também. E esta era
montada por jovens, gente nova, gente com tempo, com disponibilidade e mesmo
assim amargou no esquecimento. Eu gostaria de entender o que dá nessa gente que
não leva as coisas para frente, que não se esforça, não trabalha para
caracterizar Brejo como um lugar muito além do balaio de rixas políticas.
Como uma despretensiosa solução de minha parte surgiu uma
ideia que gostaria de ver implantada se não por mim, por alguém que se sinta
sensibilizado. Foi trocando mensagens com meu amigo Pablo Emanuel, que mora em
Parnaíba, que sugeri a criação da Associação Cultural Terra dos Muypurás. Eu
disse isso quase de brincadeira e dias depois me vi acreditando que era
possível realmente colocar isso em prática. Inclusive li sobre como abrir uma associação.
A principio seria um “grupo” formado por “artistas”, simpatizantes e apoiadores
sem fins lucrativos que teria como objetivo pesquisar, resgatar e promover a
cultura brejense por meio de alguns trabalhos. Tais como: reativar a Casa da
Cultura, manter uma brincadeira de Bumba-Boi e manter a Companhia Torypabas, o
grupo de teatro de Brejo (já existe a 7 anos). Fora outras expressões como o
Tambor de Crioula e o Reisado já muito esquecido também. Inclusive (e porque
não) caracterizar um carnaval com um cara mais brejense.
Quando essas ideias me vieram, primeiro me deparei com toda
a dificuldade existente de se colocar isso em prática, mas estou otimista que é
possível dar certo. De forma simples e gradativa, sem grandes ambições a
principio. Essa Associação Terra dos Muypurás poderia agir em três datas
específicas:
} Fevereiro promover um baile
carnavalesco à moda antiga. Acredito também que seria possível investir em um
trabalho de caracterização do carnaval em Brejo. Algo que servisse inclusive
como eficaz promoção da cidade no baixo Parnaíba e atraísse assim visibilidade.
Com um tom de sátira brincar com a ideia de um carnaval no brejo. Inclusive a
criação de um bloco e um personagem mascote figurado em um sapo. Se a ideia
fluísse, até mesmo canções com elementos próprios. Nada que substitua a já
existente festa contemporânea como já é realizada, mas sim como um acréscimo
que valorize Brejo e ajude a divulgar-nos.
} Junho-Julho com a brincadeira de bumba-boi
e aniversário de Brejo. Nessa época, daria a maior movimentação na Casa da
Cultura e trabalhos realizados nela. Além da exposição de acervo documental e
fotográfico de Brejo, com a ajuda do grupo de atores da Companhia Torypaba,
criaríamos quadros-vivos contando a história da cidade. Ou seja, atores
caracterizados como personagens históricos de Brejo contando sua própria
biografia fazendo assim um tour pela história de Brejo de forma viva e
proporcionando grande aprendizado.
} Dezembro com cantatas natalinas. Nesse
mês a criação de um coral para acompanhar com cânticos natalinos uma
apresentação teatral na porta da Igreja Matriz. Uma apresentação com traços
muito próprios onde misturássemos elementos nossos com o nascimento de Cristo.
Talvez uma mistura tida como impossível, mas que eu já consigo esboçar algo em
minha mente e que intitulo inicialmente como “Da Taba dos Muypurás Nasce Também
o Cristo.”
Enfim, são ideias que brotam de mim e que com certeza na
companhia de amantes da cidade poderiam ser amadurecidas, discutidas e
executadas, pois esta é minha vontade e sei que é deve ser a vontade de quem
ama Brejo. Além de publicar este texto como uma singela denúncia nas redes
sociais. Também envio este texto a pessoas que de alguma forma verá ele como um
despertar para esta necessidade de fazer algo em relação a cultura e que também
pode ajudar. Não é um texto para somente apontar erros, mas também apresentar
soluções. Eu agradeço e, sobretudo, Brejo agradecerá eternamente a quem puder
fazer algo.
Wanderson Mota
03/07/13 São Luís-MA