7.08.2013

A CULTURA MANDA UM BEIJO PARA BREJO: CRÍTICA SOBRE A INDIFERENÇA A NOSSA CULTURA.


Brejo deveria ser o recôndito da cultura no Baixo Parnaíba, mas infelizmente não é. Não porque nos falte expressões culturais, mas sim porque deixamos, a muito tempo, de ser uma cidade cultural para ser uma cidade de cultura política. As divisões políticas abafam qualquer outra coisa em Brejo. Não interpretem isso como um exagero meu. Não estou tentando culpar a política como principal responsável pela quase extinção da diversidade de expressões culturais genuínas em nossa cidade. No entanto, não nego que ela tem sua parte para chegarmos a esta situação. Da mesma forma o povo tem uma “culpa” por se acomodar e não tentar reverter esse quadro enquanto há tempo. Um povo que se entrega como súditos cegos de fulano e beltrano e esquece que políticos e pleitos passam, mas Brejo não. Gostaria de ver algo sendo feito e mudado antes da minha geração passar!

Muitas são as vezes que desabafo no facebook a respeito da falta de apoio e investimento na cultura brejense sem que uma representação política leia e opine sobre o assunto. Mas sem dificuldades encontro muitos desses representantes políticos travando batalhas baixas, acusadoras e desmoralizantes em outras atualizações por aí... Isso é lamentável. Alguns vereadores praticamente moravam na frente do computador ou no celular acessando o facebook antes das campanhas e depois que se elegeram simplesmente tomaram um eficiente chá de sumiço. E não me convence dizer que sumiram do facebook porque estão ocupados trabalhando. Caso tivessem realmente ocupados e trabalhando, no sentido mais concreto da palavra, nossa cultura não estaria assim às traças, como que abandonadas em um baú de quinquilharia! Antes de me aprofundar no real assunto desse texto quero deixar claro que não sou de partido A e partido B, meu partido eu já tomei. Sou do lado de Brejo e o que for melhor para ele. Quem oferecer o melhor para ele, esse está do MEU lado, porque eu mesmo não estou do lado de ninguém. Pois aqui falo como alguém apartidário, falo como um brejense e tão somente como isso. Está claro? Enfim.

Perdemos muita coisa ao longo da história e hoje estamos quase descaracterizados culturalmente. Salvo apenas pelos festejos que resistem, mas que também alguns pontos perderam a essência. Fora a isso, não há muita coisa atrativa em Brejo. Os “turistas” que recebemos, não são exatamente turistas, são filhos desta terra que voltaram para visitar parentes. Se der para chama-los de turistas, amém. Eu, no entanto, não fico satisfeito.

Para mudar a situação a primeira coisa que deve ser feita é acabar com a maldição dos quatro anos. É conscientizar as pessoas que a cultura é mais que uma secretaria e vale mais que um emprego de quatro anos. É preciso esclarecer que a cultura deve estar acima do bem e do mal da política. Muito acima do vereador, do prefeito, do secretário e tarará... Digo isso, porque a parcela de culpabilidade da política é exatamente essa. Se você não é do lado do governo que está no poder você não é nada e nada do que você queira fazer vai para frente. Isso é uma triste realidade e covardia imensa! Do ano dois mil para cá nos aparecem duas brincadeiras de bumba-boi. Quem não se lembra do Brilho dos Muypurás e o Sotaque Brejeiro? Mas hoje são meras sombras de governos passados fomentando assim o apelido de “cidade do já teve” que Brejo tem. Mesmo gostando deles e da iniciativa, o caráter político dos dois bois me fazem declarar que nada tinham de tão cultural. Tão tal é que hoje já não existem. Não eram de Brejo, eram da prefeitura entendem o que eu quero falar? Por isso deixaram de existir. Basta o prefeito sair e o boi morre. Vem outro prefeito, outro boi, o prefeito vai embora e o boi também. Essas brincadeiras de bumba boi deveriam ser do povo, de gente desligada de compromissos com político A e B. E mesmo que fosse ligado politicamente a alguém o próximo prefeito deveria dar total apoio. Pelo menos para dar continuidade a brincadeira e transformar isso em tradição. Se existe uma secretaria chamada de Secretaria de Cultura, implica que o gestor deve cobrar e incentivar que ela trabalhe tão intensamente quanto à secretaria de Educação, Saúde e todas as outras. Se há uma Secretaria de Cultura, mas não há trabalho visível realizado, então a prefeitura (não gostaria de usar essa expressão) tem culpa. Uma secretaria de cultura deve trabalhar para o bem de Brejo, não de cicrano ou fulano, ou de partido A e partido B.

Quando falo da parcela de culpa do povo, do qual até eu estou incluso, me refiro ao comodismo, o abandono de brincadeiras, a falta de iniciativa de criar e dar continuidade a manifestações culturais sejam elas quais forem. Muitos se acovardam simplesmente porque muda o seu prefeito. Desistem, se escondem, fogem por medo de represália. Eu até entendo, pois sei o quanto é difícil receber apoio de alguém do qual você não acompanhou nas campanhas eleitorais. Ainda mais em uma cidade pequena como a nossa que tudo gira ao redor da “galinha dos ovos de ouro” também conhecida como Prefeitura. Mas minha gente, a cultura vale mais que qualquer cargo! Há mais fontes de financiamento que político A e B. Encontra-se aí a boa vontade em carência!

O estado da cultura brejense pode ser bem representado se olharmos o estado da Casa da Cultura. Ou seja, abandonada e caindo aos pedaços. Em outras épocas, a tal Casa da Cultura, um protótipo de museu, conseguia atrair muita gente de fora. No entanto, depois que o governo idealizador da ideia saiu de cena, a Casa foi sendo esquecida até que fechou as portas de vez.

A situação que falo é tão crítica que sequer temos danças que nos representem nos festejos juninos. Eu em São Luís amarguei indignação ao receber notícia que o arraial o corredor da folia teve quase que inteiramente apresentações de fora. Uma vergonha.  Antigamente, havia quadrilhas de renome em Brejo. Lembro-me de uma tradicional do morro do Cemitério do qual esqueci o nome. E outra também das Areias. Mas hoje nem uma e nem outra é montada. Nesse sentido culpo o desleixo do povo. Até a contemporânea Explosão de Ritmos parece ter sido abandonada também. E esta era montada por jovens, gente nova, gente com tempo, com disponibilidade e mesmo assim amargou no esquecimento. Eu gostaria de entender o que dá nessa gente que não leva as coisas para frente, que não se esforça, não trabalha para caracterizar Brejo como um lugar muito além do balaio de rixas políticas.

Como uma despretensiosa solução de minha parte surgiu uma ideia que gostaria de ver implantada se não por mim, por alguém que se sinta sensibilizado. Foi trocando mensagens com meu amigo Pablo Emanuel, que mora em Parnaíba, que sugeri a criação da Associação Cultural Terra dos Muypurás. Eu disse isso quase de brincadeira e dias depois me vi acreditando que era possível realmente colocar isso em prática. Inclusive li sobre como abrir uma associação. A principio seria um “grupo” formado por “artistas”, simpatizantes e apoiadores sem fins lucrativos que teria como objetivo pesquisar, resgatar e promover a cultura brejense por meio de alguns trabalhos. Tais como: reativar a Casa da Cultura, manter uma brincadeira de Bumba-Boi e manter a Companhia Torypabas, o grupo de teatro de Brejo (já existe a 7 anos). Fora outras expressões como o Tambor de Crioula e o Reisado já muito esquecido também. Inclusive (e porque não) caracterizar um carnaval com um cara mais brejense.

Quando essas ideias me vieram, primeiro me deparei com toda a dificuldade existente de se colocar isso em prática, mas estou otimista que é possível dar certo. De forma simples e gradativa, sem grandes ambições a principio. Essa Associação Terra dos Muypurás poderia agir em três datas específicas:

}  Fevereiro promover um baile carnavalesco à moda antiga. Acredito também que seria possível investir em um trabalho de caracterização do carnaval em Brejo. Algo que servisse inclusive como eficaz promoção da cidade no baixo Parnaíba e atraísse assim visibilidade. Com um tom de sátira brincar com a ideia de um carnaval no brejo. Inclusive a criação de um bloco e um personagem mascote figurado em um sapo. Se a ideia fluísse, até mesmo canções com elementos próprios. Nada que substitua a já existente festa contemporânea como já é realizada, mas sim como um acréscimo que valorize Brejo e ajude a divulgar-nos.
}  Junho-Julho com a brincadeira de bumba-boi e aniversário de Brejo. Nessa época, daria a maior movimentação na Casa da Cultura e trabalhos realizados nela. Além da exposição de acervo documental e fotográfico de Brejo, com a ajuda do grupo de atores da Companhia Torypaba, criaríamos quadros-vivos contando a história da cidade. Ou seja, atores caracterizados como personagens históricos de Brejo contando sua própria biografia fazendo assim um tour pela história de Brejo de forma viva e proporcionando grande aprendizado.
}  Dezembro com cantatas natalinas. Nesse mês a criação de um coral para acompanhar com cânticos natalinos uma apresentação teatral na porta da Igreja Matriz. Uma apresentação com traços muito próprios onde misturássemos elementos nossos com o nascimento de Cristo. Talvez uma mistura tida como impossível, mas que eu já consigo esboçar algo em minha mente e que intitulo inicialmente como “Da Taba dos Muypurás Nasce Também o Cristo.”

Enfim, são ideias que brotam de mim e que com certeza na companhia de amantes da cidade poderiam ser amadurecidas, discutidas e executadas, pois esta é minha vontade e sei que é deve ser a vontade de quem ama Brejo. Além de publicar este texto como uma singela denúncia nas redes sociais. Também envio este texto a pessoas que de alguma forma verá ele como um despertar para esta necessidade de fazer algo em relação a cultura e que também pode ajudar. Não é um texto para somente apontar erros, mas também apresentar soluções. Eu agradeço e, sobretudo, Brejo agradecerá eternamente a quem puder fazer algo.

Wanderson Mota
03/07/13 São Luís-MA